ACADEMIA MIDIÁTICA

15 junho 2006

FACULDADE É PRA GENTE SE AMARRAR NELA!

Jacqueline Lima Dourado - jacdourado@uol.com.br


Saiu no jornal Folha de São Paulo num dia desses uma matéria dando conta de que sob forte concorrência, universidades aumentam em 39% por cento, investimento em marketing para atrair estudantes uma vez que, em dois anos, aumentou em 45% por cento o número de faculdades privadas no país. Remando contra a maré são apresentados os seguintes números: 31% por cento das vagas estão ociosas além de 30% de inadimplência. Para o repórter Luis Renato Strauss (FSP) as instituições investiram R$ 420 milhões em propaganda.
Mas a crise das escolas não se resume somente a saturação do mercado. A verdadeira história não está abalizada somente em números. O que será que está por trás de alguns abandonos de alunos? Mensalidades caras? Bibliotecas deficientes? Ou será que é porque algumas faculdades “facilitam” a entrada através de testes discutíveis e dificultam a vida do aluno dentro da escola? Será que estes alunos ao começarem a apresentar notas “bombas” e não terem uma base forte do ensino médio se vêem completamente perdidos e depois de alguns fracassos resolvem abandonar o barco? Já foi medida a relação abandono/boletim? Quem é o aluno inadimplente afinal? O que o professor tem a dizer sobre este aluno? Já se questionaram sobre isso?
Antes de apresentarem pesquisas numéricas, algumas empresas, principalmente as faculdades deveriam compreender melhor o perfil intelectual dos seus alunos. Não só o aspecto econômico da família através de um formulário chamado “perfil sócio-econômico” que algumas faculdades apresentam. Assim poderiam evitar perguntas de sala de aula do tipo: - “Hitler se escreve com R ou com CH?” “O que tem haver estudar história se o curso é de jornalismo?” Ou ainda bilhetes: - “Meu QI junto com o de toda minha família é elevadíssimo o que acontece é que suas provas é difícil para uma pessoa que quer ser proficional como eu” (sic)
Acredito que uma boa redação evitaria que os semi-alfabetizados entrassem na mesma turma daqueles que estão plenamente preparados para um curso superior. O que se vê atualmente são turmas completamente heterogêneas em que os não preparados mergulham no mundo da sorte de uma prova em que o X possa ser a redenção ou então em textos que as respostas possam ser transferidas de um pedacinho de papel para a página da prova. Para estes é lucro o professor que “não está nem aí“.

Não dá para vestir a camisa.

Ainda a matéria da Folha dá conta de que em dois anos começará o processo de encolhimento dessas faculdades através de falências, fusões e cooperações. A conseqüência disto é que algumas faculdades vão perder por si só uma identificação, uma marca que todo aluno gosta de ter: - “Eu me formei pela escola X....” Quem estuda marketing sabe que o tiro pode sair pela culatra.
O que estas faculdades precisam é iniciar um processo de qualidade de ensino. Investir em livros, em equipamentos, humanizar a escola. Fazer com que o aluno queira freqüentá-la mesmo fora do horário de aula. Que seja atraído para a biblioteca, para atividades paralelas. É preciso se gostar da escola.
O que estas instituições têm que perpetrar é investir em seus quadros de professores especializando-os através de pós-graduações, apoiando de forma total o quadro daqueles que são responsáveis pela formação dos seus “clientes” se assim querem considerar o aluno.
É bom que algumas instituições comecem a enxergar que o cliente é aluno, a família, os amigos do aluno que vão saber como é a faculdades através deste. O cliente da faculdade é o professor, uma vitrine para a escola. O cliente da escola é o funcionário que faz a ponte entre tudo isso e precisa ser treinado para lidar com os estudantes, com os familiares, com os professores e entre eles mesmos.
Enfim, não existe logomarca, fidelidade, credibilidade, intelectualidade que resistam à falta de uma visão empresarial ritmada com um ideal de educação.

PARA REFLETIR:


“Escola é, sobretudo, gente, gente que trabalha, que estuda,que se alegra, se conhece, se estima. O diretor é gente, O coordenador é gente, o professor é gente, o aluno é gente, cada funcionário é gente. E a escola será cada vez melhor na medida em que cada um se comporte como colega, amigo, irmão...
.... O importante na escola não é só estudar, não é só trabalhar, é também criar laços de amizade, é criar ambiente de camaradagem, é conviver, é se ‘amarrar nela’!”
Paulo Freire

3 Comments:

At 7:22 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Parabéns! finalmente algo inteligente para os internautas de plantão.

Marileide

 
At 9:03 da manhã, Anonymous Anónimo said...

É gratificante ter um espaço como este para ler e comentar sobre assuntos tão importantes como o abordado no texto "Faculdade é pra gente se amarrar".
A visão lúcida da professora Jacqueline Dourado merece ser levada em consideração por toda a gente que se diz comprometida com educação, ensino de qualidade e formação de pessoas para a vida e o trabalho.
Parabéns. É muito bom ter sua voz ativa.

Maria Helena de Oliveira

 
At 4:20 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Ainda bem que existem profissionais com a sua competência, remando contra a maré do descaso educacional.
Parabéns pelo espaço, voltarei sempre por aqui. Abraços.

 

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