CRÔNICA DA SEMANA
A CARA-METADE
Roberto, um grande amigo meu, está com um dilema daqueles. Indago. Ele põe a mão no queixo fica em silêncio por uns três ou quatro minutos e diz:
- “Sabe eu vou fazer quatro anos de casado.”
Fico feliz. Digo que é muito bom. Quanta gente não passa nem um mês. Quantos casamentos são verdadeiros golpes na vida de uma pessoa. Quanta gente vive só ou mal acompanhada.
Disparei :
-Parabéns ! Mas ele não se animou. Continuou ensimesmado. E eu quis saber o por quê. Roberto diz que queria um romance contínuo.
Eu disse:
- Besteira ! As relações não são somente brancas nuvens. Têm que ter raios e trovoadas. Ele respondeu que não são nuvens brancas, nem raios ou trovoadas... é uma forma de estio. E continua que queria que cada dia para ele fosse como naquele livro, O Barão nas Árvores, do Ítalo Calvino, onde Cosme o protagonista, ao se encontrar com seu grande amor, Viola, tem o seguinte comentário: “Conheceram-se. Ele a conheceu e a si próprio, pois na verdade jamais soubera quem fosse. E ela conheceu e a si própria, pois, mesmo já se conhecendo, nunca pudera se reconhecer assim.”
Fiquei pasma, meu amigo, você quer algo como Romeu e Julieta, Tristão e Isolda, Cleo e Daniel, Sansão e Dalila. Quer as nuvens, o êxtase, o céu... a terra e tudo quanto é anjo e arcanjo juntos. Quer o impossível.
Roberto não se alterou e disparou :
- Eu quero o impossível. Porque o amor por si só já é impossível e conseguimos chegar até ele. Nos adaptarmos a outra pessoa, mudamos o cardápio, hábitos, programas, estilo de vida quando há paixão há prazer em tornar-se adaptável ao outro.
Eu contra argumentei dizendo que ele então se anulou . Que passou quatro anos tentando ser outra pessoa e agora a voz da consciência o chamava a luz da verdade. Nada disso, ele se agitou e disse que é o ponto onde ele fala que quer o romance de Calvino onde antes ele jamais saberia quem ele era e partir dela ele sabe quem é. Disse:
- Sou parte dela. Sou ela.
Mas ela não vê as coisas dessa maneira, disse eu, e você vai ter que entender ou desistir. Roberto então começou a despejar mais frases sem sentido.
Quero a volta dos bilhetes, dos cartões, dos recadinhos, dos telefonemas no meio do trabalho só para dizer eu te amo e voltar ao serviço. Quero o abraço do encontro no fim de tarde. Quero os pezinhos se encontrado por baixo da mesa. Quero o pôr-do-sol. Quero pegar a estrada. Quero ser acordado com um bom dia meu amor. Quero poder amar, simplesmente quero poder amar. Só isso.
Contemporizei. Mas isso aí não é ela. Isso aí é você! Você é assim e não ela. Você quer que ela seja como você. Falei e sacudi seus ombros. Mas ele disse que esse era o problema.
- “Eu quero que ela também seja eu. Porque durante um bom tempo ela quis sê-lo e muitas vezes conseguiu. Agora eu não me encontro porque ela se perdeu. Depois que disse isso ele voltou ao seu silêncio característico, colocou o CD dos Paralamas e começou a ouvir Capitão de Indústria.
Resolvi deixá-lo só a procura de sua cara-metade.
Roberto, um grande amigo meu, está com um dilema daqueles. Indago. Ele põe a mão no queixo fica em silêncio por uns três ou quatro minutos e diz:
- “Sabe eu vou fazer quatro anos de casado.”
Fico feliz. Digo que é muito bom. Quanta gente não passa nem um mês. Quantos casamentos são verdadeiros golpes na vida de uma pessoa. Quanta gente vive só ou mal acompanhada.
Disparei :
-Parabéns ! Mas ele não se animou. Continuou ensimesmado. E eu quis saber o por quê. Roberto diz que queria um romance contínuo.
Eu disse:
- Besteira ! As relações não são somente brancas nuvens. Têm que ter raios e trovoadas. Ele respondeu que não são nuvens brancas, nem raios ou trovoadas... é uma forma de estio. E continua que queria que cada dia para ele fosse como naquele livro, O Barão nas Árvores, do Ítalo Calvino, onde Cosme o protagonista, ao se encontrar com seu grande amor, Viola, tem o seguinte comentário: “Conheceram-se. Ele a conheceu e a si próprio, pois na verdade jamais soubera quem fosse. E ela conheceu e a si própria, pois, mesmo já se conhecendo, nunca pudera se reconhecer assim.”
Fiquei pasma, meu amigo, você quer algo como Romeu e Julieta, Tristão e Isolda, Cleo e Daniel, Sansão e Dalila. Quer as nuvens, o êxtase, o céu... a terra e tudo quanto é anjo e arcanjo juntos. Quer o impossível.
Roberto não se alterou e disparou :
- Eu quero o impossível. Porque o amor por si só já é impossível e conseguimos chegar até ele. Nos adaptarmos a outra pessoa, mudamos o cardápio, hábitos, programas, estilo de vida quando há paixão há prazer em tornar-se adaptável ao outro.
Eu contra argumentei dizendo que ele então se anulou . Que passou quatro anos tentando ser outra pessoa e agora a voz da consciência o chamava a luz da verdade. Nada disso, ele se agitou e disse que é o ponto onde ele fala que quer o romance de Calvino onde antes ele jamais saberia quem ele era e partir dela ele sabe quem é. Disse:
- Sou parte dela. Sou ela.
Mas ela não vê as coisas dessa maneira, disse eu, e você vai ter que entender ou desistir. Roberto então começou a despejar mais frases sem sentido.
Quero a volta dos bilhetes, dos cartões, dos recadinhos, dos telefonemas no meio do trabalho só para dizer eu te amo e voltar ao serviço. Quero o abraço do encontro no fim de tarde. Quero os pezinhos se encontrado por baixo da mesa. Quero o pôr-do-sol. Quero pegar a estrada. Quero ser acordado com um bom dia meu amor. Quero poder amar, simplesmente quero poder amar. Só isso.
Contemporizei. Mas isso aí não é ela. Isso aí é você! Você é assim e não ela. Você quer que ela seja como você. Falei e sacudi seus ombros. Mas ele disse que esse era o problema.
- “Eu quero que ela também seja eu. Porque durante um bom tempo ela quis sê-lo e muitas vezes conseguiu. Agora eu não me encontro porque ela se perdeu. Depois que disse isso ele voltou ao seu silêncio característico, colocou o CD dos Paralamas e começou a ouvir Capitão de Indústria.
Resolvi deixá-lo só a procura de sua cara-metade.
17 Comments:
conheço bem essa história....né!?!?!
Roberto está mais que certo...
Nada melhor que acordar com um "bom dia meu amor" ou receber ligações altas horas da madrugada só pra dizer: "liguei só pra escutar sua voz e dizer que te amo", e ficar falando besteira a madrugada todinha e ao amanhecer vendo o sol nascer, dizer:" esse sol é pra você meu amor, bom dia!"... ligar do nada perguntando se pode vê-la a tarde só pra ver aquele belo sorriso estampado no rosto e dizer: "te adoro" ... ...abraços gostosos, beijos suculentos, olhares maliciosos...ah...isso faz falta....muita falta...mas fazer o que né?! nada é como a gente deseja...
beijos....
A esposa do Roberto q me perdoe e escooonda este homem!
Jacqueline, manda um clone do Roberto pra mim.
Lorenna Ramalho
Pobre Roberto,
Acho que ele sente saudades é da juventude e da forma como tudo nos afeta intensamente nesse período. Sou casado a sete anos e tenho consciência que hoje vivo no lucro de tanto tudo que já fomos até agora. E como quem vive de rendas, espalho-me tranquilamente consciente de que esses mesmos detalhes que fazem falta ao Roberto já existiram, já fazem parte do todo que construímos e lembrá-los já é mais do que suficiente. Saudade até que assim é bom, pro cabra se convencer que é feliz sem saber.
Ahh..como seria bom eternizar esses sentimentos expostos pelo Roberto. Mas não se iluda amigo, existe beleza e afeto também em nossas minguadas "rotinas" de casados.Acho que já é hora de tranformar todo esse "fogo" em uma brasa amiga e companheira...na verdade não deixamos de nos apaixonar,apenas transformamos em amor e companheirismo aquela paixão arrebatadora de outrora. Lindo texto tia Jac!!!!..Um xerão
Roberto quer o que todos queremos.
Quem não entende Roberto?
=*
Beijo Jac.
Concordo com o Américo! Paixão é muito bom... mas passa. O que fica e que vale a pena é o amor, com a sua calma, com seus altos e baixos, com aquela felicidade morninha que deixa a gente assim... leve. O resto é perfumaria.
O que não significa, é claro, que a gente não possa ferver esse mesmo amor a nosso gosto...
Uma história muito interessante porque mostra o que muita gente sente depois de algum tempo d casado...
Texto muito bom.
Muito bom, mesmo , uma cronica bastante trabalhando com uma capacidade sinonimica incrivel, muito maneiro, com uso do jogo de ideias ``conceptismo`` muito legal está de parabens voçÇe viu!
Jacqueline, todo mundo é um pouco Roberto.
Todo mundo é um pouco a esposa do Roberto.
Todo mundo se apaixona e desapaixona. Sofre e faz sofrer. Todo mundo um dia acreditou ou ainda acredita que existe amor esterno. E quem nunca quis um amor assim? Não morrer, mas viver de amor. Temperamental... as vezes lúdico... outras, alucinógeno. Quem não quer ser feliz. Quem? Quem não adoraria prorrogar o orgasmo um pouquinho mais? Ou o tamanho da bola de sorvete? Talvez até o número de olhares apaixonados que recebemos durante o dia... Cada um tem algo em particular que o deixa feliz. Pena quando essa particularidade depende de outra pessoa, e quase sempre é assim!!! Seria quase como dizer que é impossível ser feliz sozinho. E é? Não sei. Mas o Roberto que existe aquí dentro, diz que não, e toda hora grita, para ninguém, que quer um carinho! Quer ser feliz! E acaba se apaixonando por sí mesmo, e sempre termina só! Certo mesmo, está o Roberto, que sofre por um amor real.
Jacque... você é a mulher!!!
Lindo, o seu texto!
Desculpa a minha viagem!
Daniel Paixão
mas o que dizer
dos sentimentos...na verdade, os afetos são sentimentos, estados de ânimo
que, além de se diferenciarem das emoções por seu carater positivo e
irradiante, diferem tambem, por sua continuidade e duração. A emoção, já é
diferente....é súbita, rápida, e efêmera, enquanto o afeto é uma emoção
prolongada que nasce e morre lentamente, pois seu carater fundamental é o
da continuidade da estabilidade e de maior profundidade em relação à emoção.
Sem que o percebamos, nosso sentimento é frequentemente ofuscado pela névoa
dos estados emotivos, condicionados por impulsos instintivos. O verdadeiro
"amar" é conseguido somente com o esforço e apenas em momentos de
concentração voluntaria. vivemos isso de fato, quando nossa mente se desvincula
por completo de influencias emocionais e instintivas, quando conseguimos nos
focalizar na nossa vontade e racionalizar com imparcilalidade e lucidez. Quantas vezes nós, golpeados pela provação e sofrimento, reagimos,
mergulhando na vida exterior com febril ansiedade, procurando esquecer a
dor, as proprias vontades, sem saber quão é nociva essa evasão, uma vez
que o sofrimento não enfrentado, não suportado e, finalmente, não superado, permanece em nosso subconsciente e, como passar do
tempo, cresce como um tumor escondido, que vai minando a sua saude emocional até que
um dia compromete todo seu bem estar, e sua felicidade. Somos seres
influenciaveis, sugestionaveis, desprovidos de autodominío e de vontade,
sempre incosntantes e volúveis, exatamente por não termos ainda encontrado o
"centro" de nossa consciencia sentimental.
Michel Franciss
Nossa eu fiquei ate sem palavras, mas tipo, será o destino de cada um de nos procurar pela cara-metade? sim! felizmente ou infelizmente! e a busca naum eh facil
parabens pelo texto
e eu aqui, batendo o pé:
- seja eu, meu amor. senão não saberei como te amar!
e o pensamento lá longe, tentando entender se seria um excesso ou uma falta de amor-próprio. ou talvez não seja nada, pois desses assuntos de amor o pensamento deve manter mesmo é distância, posto que é loucura.
e pôr razão na loucura é mexer demais nos cálculos amorosos. é preciso esperar, pois certas loucuras inerentes e necessárias costumam acabar com uma razão indefinida e incontestável.
fazer o quê? deixa ser.
Parabéns...escrevendo como sempre com muita sabedoria.
Alguém do passado.
Roberto existe e é de carne e osso. e acredite! está bem do ladinho.
Você é d+++++++++++++++++++++++++++.
Obrigado por intiresnuyu iformatsiyu
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