ACADEMIA MIDIÁTICA

11 julho 2006

CRÔNICA DA SEMANA

Do melão, do gosto e de todos os sabores
por: Jacqueline Dourado

Ela quer uma fruta para boca. Uma boca aberta no rumo de céu. O céu da boca não dá chance ao inferno. Tem seus próprios sonhos, delírios e demônios e forma do desejo. Moradia da degustação. Lar de quem quer sorver o mundo entre os dentes. Ela morde. Ela lambe e ela chupa. Casa das delícias.
De todos os cheiros do mundo. De quantos espaços ainda restam para habitar ela nomeou os melões os seus eleitos. E assim selecionados os melhores cheiros foi do melão que ela tirou o melhor sabor. Melões bordados, melões-serpentes , casca rugosa, Nara-zuke, dudaim, melões açucarados de propriedades perfumadoras.
Assim em cortes geometricamente perfeitos foi fazendo pequenos cubos de sabores. Deixando gelar e comendo pedaço a pedaço esgotando todo o mel. Aproveitando para espantar as preguiças que escalavam suas costas e teimavam em não deixá-la acordar. Sonhava com cellos e pleno nirvana.
O tamborilar dos pingos da chuva eram embalos para o travesseiro entretido com morfeu. Sonhava com o amor de Arthur e Lancelot. Queria ter sua própria lenda entre as brumas.
Aqui e ali ela dava uns suspiros, levantava os olhos muito miúdos e corria para a rede em sua virtualidade mais que real. Embalava-se embalava entre sites e parava em home pages atraentes escondendo-se entre um e outro nick, mas sempre e sempre comendo melões. Uma busca no hipertexto do sabor. Galhos e blogs numa harmonia particular.
Gesto.
Assim comendo, ela vai descobrindo mundos semeando os cheiros que emanam da doçura da fruta e do sabor que se instala na língua exploratória. Assim, também, ela vai se aninhando entre os braços como se fossem igarapés a perderem-se de vista. Tanta água espremida, tanto sabor, tanto mel a ser recolhido.
Melões duros, maduros, grandes. Melões a ocuparem a vastidão da boca. Mastigação intercalada, reflexiva no universo de sabores. Cada melão tem um sabor diferente, mesmo sendo igual.
Lenda, brumas e barulho de chuva na janela. Uma mão ausculta o barulho e transmite ao corpo. A chuva embala e esgota e faz com que ela volte a deixar as preguicinhas montarem barraca. Ela vai assim, assado, de banda e de lado. Deixando os olhos mais que miúdos irem fechando... fechando...
De volta ao mundo dos sonhos: Avalon.