ACADEMIA MIDIÁTICA

14 novembro 2006

13 novembro 2006

DO QUE EU NÃO SEI SOBRE VOCÊ.

Não sei se é o olhar, ou o jeito como me vê.
Não sei se é a maciez do corpo ou o corpo que se descobre em minhas mãos.
Não sei se é a forma de pegar no cabelo. Ou o cabelo sem forma definida.
Não sei se é como dirige ou se é como se dirige a mim.
Não sei se é porque é dia ou porque é noite e é bom para ver as estrelas refletidas em seus olhos.
Não sei se é porque come bem devagar ou a pressa que tem em procurar o jornal de manhã.
Não sei se é o jeito rápido de dormir ou o suave acordar bem cedo.
Não sei se é por causa de sua memória fabulosa ou por esquecer de se embrulhar todas as noites.
Não sei se é o tagarelar até faltar o ar ou o ar que me falta quando não vejo.
Eu não sei de nada e de tanto não saber é que a busca com o passar do tempo fica tão interessante: amor.

05 novembro 2006

O GATO.

POR: JACQUELINE DOURADO

Barulho distante de carro. Vozes longes e crianças. Folhas de plátano rodopiam trazendo o frio. Poste. Telhados olhados a formar paredes junto com pinheiros. Paredes brancas. Passos na escada. Ninguém me bate à porta.

Fotos. A imagem brota saudade no olho e transborda. Lembranças de casa.

Um gatinho abandonado na rua. Sente frio e fome nesse inverno. Miado sofrido. Não vejo o gatinho, mas sinto frio também. E entendo exatamente o que seu miado pede. Eu também quero o que o gatinho quer.

Nessa noite eu vejo nuvens amareladas. Nuvens de chuva. Pobre gato em seu miado torturante, eu também quero chorar. Intempestivo tempo. Regente de todos os relógios. Rei absoluto dos encontros, desencontros e reencontros. Uma ampulheta cruel a atuar no corpo em sua contagem regressiva. Quando nascemos é ligado o relógio ao contrário. Tempo preciso. Nem um minuto a mais ou a menos.

O tempo do gatinho foi precisamente célere. Seu silêncio agora não é de conforto. É de morte. O tempo ajudou que ele não sofresse a chuva.

Agora uma enxurrada desce a rua abaixo. No canto da calçada forma um pequeno redemoinho. O asfalto brilha esperando o deslize dos carros e eles cometem, deixando os faróis formarem um ballet de luz. De longe tudo é bonito. A dor só se sente na carne.

Um homem encapotado distribui jornais trazendo notícias secas de ontem para o dia de amanhã. O tempo da notícia é diferente do tempo do pão da padaria da esquina. Incompreensível a temporalidade jornalística.

Foi-se o tempo da chuva e o vento seca suas marcas num precisão que só a natureza sabe o procedimento. Pela manha há o resgate da chuva passada. Um sol tímido e preguiçoso tenta cumprir seu ritual, mas por hora não consegue. O vento sim, este exerce sua força em plenitude. Quer ser mais que o sol e a chuva de ontem. Onde estará o gatinho? O miado agora é quase inaudível.

Um carro de som anuncia o gás. Música e promoção para animar o fogão. Acender o fogo da memória é bem mais interessante. Lembrar que o fogo queima, mas purifica. Só os covardes não se sentam ao redor da fogueira. Covardes? Distância deles então. Que a água não o limpe e que o fogo não os purifique jamais. Mas a água limpou o gatinho. Uma vala de esgoto deve abrigá-lo enquanto o caminhão do lixo não cumpre sua parte. O gatinho se foi. Agora é lixo.