ACADEMIA MIDIÁTICA

31 dezembro 2006

ENFORCADOS FOMOS NÓS.




Jacqueline Douradp

Uma das coisas mais me deixa perplexa é a violência e rezo todas as noites para nunca saber responder a esta. Ainda na faculdade apresentaram-me a Foucault através do livro Vigiar e Punir. Nesta obra o pensador descreve a história do poder de punir como história da prisão. A instituição desta muda o estilo penal, do suplício do corpo da época medieval para a utilização do tempo no arquipélago carcerário do capitalismo moderno.

Quando comecei a ler o livro fiquei horrorizada com a descrição do filósofo sobre os métodos de tortura e punição. Desde aí concordo que a melhor forma de punição é privar alguém da liberdade. Acredito que desde uma criança a um terrível bandido a melhor maneira de punir é tolher o indivíduo do livre-arbítrio.

2006 foi um ano que nos trouxe muitas reflexões aqui no Brasil. Mensalões, propinas, incêndios de ônibus e uma infinidade de discussão sobre como punir os famosos colarinhos brancos e como punir os bandidos de carteirinha. Para encerrar este ano atípico, nos apresentam a condenação e morte por enforcamento de Saddam.

Não gostava dele. Achava ele um assassino cruel e sanguinário e se de mim dependesse amargaria o resto da vida na prisão. Daí a satisfazer os desejos do Senhor da Guerra George W. Bush há um abismo muito grande.

Por que o tribunal que julgou Saddam não foi o Tribunal de Haia? Por que não foi o Tribunal Internacional de Justiça ou Corte Internacional de Justiça que é o principal órgão judiciário da Organização das Nações Unidas? Por que os Estados Unidos não reconhecem este tribunal? Essas indagações vêm à tona quando analisamos a velocidade da condenação e a rapidez na execução da sentença de uma forma medieval. Por que não condená-lo a prisão perpétua? Em Foucault, a instituição da prisão substitui o espetáculo punitivo da sociedade feudal através da ideologia do contrato social. Quando nos tornamos membro de uma determinada sociedade é preciso aceitar as normas e a prática de infrações determina aceitação da punição.

Quem além de Saddam infringiu as normas? Seu antigo aliado George Bush? Quem estava ao lado de Saddam e incentivou o ditador a invadir o Irã em 1980. De quem ele comprou os componentes para lançar armas químicas tanto contra o Irã como os curdos? Quem é o principal culpado de tudo isso? Em Haia talvez todas as respostas fossem dadas e a punção para tantos horrores iria lotar a prisão não só com Saddam, mas também Bush, Donald Rumsfeld, Blair entre outros.

A corda no pescoço de Saddam enforcou-nos a todos da liberdade de se pensar uma sociedade mais humana, justa e moderna. Trouxe-nos a sensação de Talião ou ainda pior de que não entramos ainda no século 21 e padeceremos nas trevas medievais.